segunda-feira, 26 de março de 2012

A guerra do ônibus

Aqui estou na segunda batalha do dia, e a guerra ainda está longe do seu fim. A primeira acabou não faz nem cinco minutos, e se estou na segunda eu já venci, consegui levantar da cama e agora estou batalhando meu lugar pra conseguir entrar num ônibus lotado para enfim chegar a tempo da minha aula.

Enfim depois de me espremer, quase perder o pé, minha mochila enganchar em mais de 10 pessoas e eu praticamente passar por cima de senhoras de idade com seus lindos cabelinhos brancos e seu cheiro de roupa guardada, consigo chegar até a catraca onde me deparo com a primeira pessoa que reparo nessa lata de sardinha que anda, com a camisa entre aberta dentes separados e um cheiro de cigarro o cobrador já me anima com seu super mau humor as 6:30 da manhã.- Dá um passinho pa trás ae fazendo favô! Parece que é só o que ele sabe falar.

Encosto em um canto e começo olhar quem está a minha volta, a maioria é de pessoas que parece estar indo trabalhar, acho que sou o único estudante presente ali, me sinto meio deslocado, mas fazer o que é o único jeito de ir pra aula. Entre um ponto e outro é uma partida e uma nova chegada, saem dois entram quatro, não consigo nem olhar pela janela pra saber onde estou, se o sol já saiu se está transito ou não me preocupo como horário, mas não consigo nem olhar as horas de tão apertado que está.

Começo a me sentir sufocado, sem ar começo a suar frio, até que como em um milagre em uma dessas paradas saem trinta e entram apenas três, consigo até um lugar pra sentar e agora sim consigo perceber quem realmente está ali. O cobrador com um suspiro de alívio se ajeita na cadeira que parece ser desconfortável e dorme. Olho para a porta de entrada e vejo uma linda mulher entrando, muito charmosa, linda e não é que ainda estou dormindo, já estou bem acordado e enxergando bem, afinal acho que já estou na décima batalha. Já não sei mais, já perdi as contas.

Ela nem se quer chegou perto e eu não consigo tirar os olhos dela. Começo a martelar na minha cabeça: - Preciso que ela perceba que estou aqui, ela tem que me ver. Nem percebi e já estou na Avenida Paulista, e parado em um farol descubro uma coisa que nem eu mesmo acredito. Em meio tantos carros, buzinas de moto, motores acelerando, é possível ter minutos de silêncio em plena principal Avenida de São Paulo. E é nesse instante que a escuto com uma voz meiga: - Cobrador, cobrador, por favor, acorda.

Ele parece nem ver o quanto ela é linda de tanto sono que está, ela começa se aproximar e eu começo a sentir seu perfume em meio o cheiro do ônibus, que não é nada agradável, cheira suor cigarro misturado com o cheiro da fumaça que vem de fora, mas é só ela se aproximar que nem sinto mais nada além do seu perfume doce, não consigo parar de olhar para ela, e ela nem me percebe ali.

Meu ponto já está chegando, me levanto e tento um contato: - Pode sentar! Ela finge nem me ouvir e me ignora. Eu já tenho q descer e fico na dúvida se perco a hora da aula pra tentar descobrir mais dela ou se vou pra aula, me lembro que não posso mais faltar. O jeito é dar o sinal e enfrentar mais um dia de aula.
Amanhã vou enfrentar a guerra do ônibus de novo, mas com mais esperança.